Artigo: A parceria estratégica entre Brasil e China

Vitor dos Santos Bueno*

A visita de Estado do presidente Xi Jinping representa o fortalecimento da parceria estratégica entre Brasil e China. Neste ano, comemoram-se os 50 anos das relações diplomáticas entre os dois países. Na agenda bilateral, existia a expectativa da entrada do Brasil na Iniciativa Cinturão e Rota — também conhecida como Nova Rota da Seda. Essa iniciativa, lançada pela China em 2013 e que reúne hoje cerca de 150 países, tem como principal objetivo o investimento em infraestrutura portuária, aeroportuária, ferroviária, energética, entre outras. Estima-se que, na primeira década da iniciativa, o país tenha investido um trilhão de dólares. No entanto, o Brasil preferiu não participar dessa estratégia chinesa que está transformando e conectando diferentes partes do mundo.

A decisão brasileira não foi prejudicial no encontro entre os líderes, que assinaram 37 acordos de diversas áreas no último dia 20. O presidente Lula destacou que os acordos estabelecem bases de sinergia para estratégias brasileiras, como a Nova Indústria Brasil (NIB), o Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), o Programa de Rotas de Integração Sul-Americana e o Plano de Transformação Ecológica.

A caminho do Rio de Janeiro para participar da Cúpula do G20 Financeiro, Xi Jinping fez uma parada no Peru, onde, no último dia 14, inaugurou o megaporto de Chancay, que reduzirá de 40 para 28 dias a viagem de navio até a China. Para o Brasil, isso representa a possibilidade de reduzir, por exemplo, os custos de transporte nas exportações do Centro-Oeste brasileiro rumo ao gigante asiático.

Desde 2009, o principal destino das exportações brasileiras é a China. Somente em 2023, foram US$ 157 bilhões em trocas comerciais, gerando US$ 51,1 bilhões de superavit comercial para o Brasil. Os acordos assinados podem acelerar o investimento em infraestrutura no país e contribuir com a competitividade das exportações no médio e longo prazo. No entanto, é importante que a definição de quais obras serão construídas seja uma decisão de comum acordo e do interesse público do Estado brasileiro.

Da parte da China, o interesse vai além da dimensão comercial. Desde a crise de 2009, a presença chinesa cresceu rapidamente na América Latina e os investimentos se estenderam do setor primário (agricultura, minérios e petróleo) para o industrial e de serviços. Um exemplo são os carros elétricos que, aos poucos, vão tomando a paisagem das grandes cidades. A China lidera esse segmento e, desde 2023, é a maior produtora de veículos do mundo.

Outra frente em que o Brasil tem interesse em estreitar a parceria com a China é na área ambiental. Merecem destaque políticas públicas chinesas desenvolvidas para enfrentar a crise climática. Desde 2012, as chamadas cidades-esponjas — adaptadas aos efeitos das mudanças climáticas — têm sido objeto de interesse de diferentes governos do mundo. No próximo ano, o Brasil sediará a COP30, em Belém, e iniciativas como essa estarão na agenda do encontro.

A tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul neste ano demonstra como o nosso país necessita de investimento e tecnologias para assegurar que eventos como esse não se repitam. A inserção do Plano de Transformação Ecológico nos acordos entre os dois países demonstra esse interesse.

Portanto, mesmo sem a participação direta do Brasil na Iniciativa Cinturão e Rota, a visita ficou marcada pela assinatura de acordos de projetos para o investimento em áreas de interesse do país. Bem como o fortalecimento das boas relações entre os dois países no que foi definido como comunidade de futuro compartilhado por um mundo mais justo e um planeta sustentável. No próximo ano, o presidente chinês estará novamente no Brasil para participar da Cúpula dos BRICS , e isso pode ser outra oportunidade para aprofundar a agenda discutida na visita de Estado deste mês.

Professor de negócios internacionais no IDP e doutorando em relações internacionais na Universidade de Brasília (UnB)*

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