Graduação presencial eleva em 95% a renda dos profissionais no Brasil, diz estudo

O Brasil enfrenta desafios constantes em termos de empregabilidade, mas a educação superior continua sendo um importante diferencial no mercado de trabalho. É o que indica a pesquisa Empregabilidade dos Egressos do Ensino Superior, ao apontar que 88% dos graduados estão, atualmente, empregados. O levantamento, realizado neste ano pela plataforma de carreiras Workalove e pelo Instituto Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior no país, ouviu mais de 5.600 profissionais com o objetivo de analisar indicadores envolvendo trabalho, renda e planejamento de carreira. Formados entre 2014 e 2024 e com idades entre 24 e 60 anos, mais de 56% da base considera que a formação superior tem valor ou muito valor no mercado, sendo 35,78% desses já formados há, pelo menos, três anos e 19,55%, há 1 ano ou menos.

Outro ponto destacado na pesquisa é o aumento da renda para quem possui diploma universitário. A média salarial bruta de profissionais com ensino superior completo é de R$ 4.640, representando um crescimento de 10,4% em relação à pesquisa anterior. “Os benefícios de realizar ensino superior ainda são muito elevados. Além da alta empregabilidade, a renda de quem trabalhava antes aumentou 95,2% para quem fez curso presencial e 51,1% para quem fez curso EaD”, detalha o economista Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp. O impacto positivo se intensifica à medida que o nível de escolaridade avança: pós-graduados, por exemplo, ganham, em média, 44% a mais que aqueles com apenas o diploma de graduação.

Apesar dos avanços sobre empregabilidade e renda, um desafio persistente para as instituições de ensino superior é preparar melhor os alunos para o ambiente profissional. Em 2021, 41,4% dos egressos afirmaram que não se sentiam preparados para o mercado de trabalho, já em 2024, esse número caiu para 38,8%. “A principal razão para não se sentirem preparados foi a falta de formação em habilidades e competências como visão de negócio, comunicação, liderança, resolução de conflitos, pensamento crítico, trabalho em equipe, entre outras”, explica Capelato.

A pesquisa também revela que 54,74% dos estudantes não receberam apoio das instituições para entrar no mercado de trabalho ou conseguir o emprego atual, contrastando com 18,32% que relataram ter recebido assistência na escolha da carreira. Nesse sentido, um dos propósitos do levantamento também foi identificar as lacunas nas quais as instituições de ensino superior podem direcionar e reforçar sua atuação, indicando que, para os egressos, as instituições poderiam apoiar seus alunos: firmando convênios com empresas, realizando workshops e palestras, criando programas de mentoria e incentivando estágios, oferecendo um currículo mais atualizado e prático, e promovendo redes de contatos para networking.

Fernanda Verdolin, CEO e fundadora da Workalove, defende a educação de carreiras

Além disso, Fernanda Verdolin, CEO e fundadora da Workalove, defende uma abordagem mais holística na educação, que comece antes mesmo da entrada no ensino superior. Inspirada em modelos de universidades americanas, onde centros de carreira são fundamentais para o desenvolvimento dos estudantes, ela enfatiza que as instituições de ensino devem “pegar a mão do aluno” e ajudá-lo a se preparar para o mercado de trabalho desde a escolha do curso, passando pela criação do currículo, mapa de profissões e entrevistas, até a transição de carreira e a aposentadoria. “A gente, como instituição, deve ser o principal mentor de vida e de carreira nesses campos, e essa é a proposta da educação de carreiras”, afirma.

No Distrito Federal, os dados oferecem um panorama detalhado da realidade dos egressos, apontando que uma parcela significativa dos estudantes formados e empregados trabalha em áreas relacionadas à formação. Em números, embora 80,4% dos graduados estejam empregados — número abaixo da média nacional, de 88% —, a maioria (52,5%) atua na área em que se formou. Por outro lado, a média salarial dos egressos do DF que estão exercendo alguma atividade remunerada é de R$ 5.315 — 15% acima da média nacional.

Outro dado relevante do recorte é o perfil demográfico dos graduados no DF: 50,63% são mulheres cisgênero, 42,50% se identificam como pardos, e a faixa etária predominante é entre 30 e 34 anos (20,63%). A pesquisa também mostra que 33,75% dos egressos atuam há menos de dois anos na atividade atual, e que 74,38% não pretendem mudar sua área de atuação. Sobre a satisfação com a carreira, 38,13% afirmam estar satisfeitos até o momento, enquanto 31,88% se dizem pouco satisfeitos. E quanto à preparação para o mercado de trabalho, 45% dos respondentes se sentiram prontos para atuar após a graduação, e 33,75% disseram que se sentiram pouco preparados.

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Para Rodrigo Capelato, o caminho para o desenvolvimento do país passa, necessariamente, pela educação de qualidade e por políticas públicas eficientes por parte do Estado. “Atualmente, apenas 20% dos jovens de 18 a 24 anos estão matriculados em uma graduação. A maioria dos jovens não ingressam no ensino superior por falta de informação e por questões econômicas. Então, é preciso pensar em políticas que aproximem os estudantes do ensino médio ao ensino superior e, conjuntamente, que se dê condições de acesso a eles”, expõe.

Rodrigo Capelato, do Semesp, ressalta a importância de políticas voltadas para o ingresso e a permanência no ensino superior

O economista cita como exemplo o Programa Pé-de-Meia, de incentivo financeiro-educacional voltado à permanência e à conclusão de estudantes no ensino médio público nacional. Por outro lado, lamenta que “praticamente não existam políticas de acesso e de permanência no ensino superior”, e defende a importância de fortalecer a educação básica. “As pesquisas já demonstraram a evolução que o ensino superior pode gerar em termos de empregabilidade e renda, além de aumentar a produtividade do país e reduzir as desigualdades sociais. É preciso incentivar o aumento do ingresso no ensino superior”, completa o diretor.

A CEO da Workalove, Fernanda Verdolin, também menciona a necessidade de maior aproximação entre academia e setor produtivo, sugerindo que isso poderia facilitar a criação de novos cursos alinhados com as demandas do mercado de trabalho. Atenta às questões regulatórias que afetam a educação superior, ela afirma participar ativamente de discussões com órgãos governamentais para propor mudanças que possam beneficiar a empregabilidade e a formação dos estudantes. A meta, segundo a especialista, é que a educação seja o principal meio para a mobilidade social e o desenvolvimento pessoal e profissional dos jovens brasileiros.

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