Pesquisa prevê impactos da IA nas profissões nos próximos cinco anos

Pesquisa deste ano da Thomson Reuters, empresa global de conteúdo e tecnologia, aponta que 77% dos mais de 2.200 profissionais entrevistados, como advogados e contadores, acreditam que a inteligência artificial (IA) terá alto impacto no trabalho nos próximos cinco anos, aumento de 10% em relação a 2023. O levantamento prevê que a inteligência artificial deve economizar 12 horas por semana aos profissionais até 2029, o que equivale a um colega adicional para cada dez membros da equipe. “A IA no trabalho pode trazer inovações, melhorar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e fornecer benefícios econômicos, aumentando a produtividade, gerando valor e abrindo espaço para maior satisfação com o trabalho”, aponta a country leader da Thomson Reuters, Andréa Ziravello.

Outro estudo, da empresa de estratégia de negócios Boston Consulting Group (BCG), feita com 13 mil líderes executivos e funcionários na linha de frente de 15 países, mostrou que o Brasil é o segundo que mais confia no uso de IA no trabalho (52%), atrás apenas da Índia (54%). A média geral entre os países subiu de 26% para 42% entre 2023 e 2024, o que se deve ao crescimento do uso da IA no trabalho. Entre os setores que mais têm recebido as transformações da tecnologia, estão os da saúde, educação, administração e marketing.

A IA é uma ferramenta tecnológica que vem sendo desenvolvida desde o século 20, mas tem se popularizado cada vez mais no dia a dia. Capaz de gerar imagens, produzir conteúdos e otimizar processos, já está em uso em diversas áreas do mercado de trabalho, reorganizando dinâmicas nesse campo.

Uma pesquisa feita pela Universidade de Oxford e pelo McKinsey Global Institute, empresa de consultoria de gestão, considera que 70% dos empregos médicos são automatizáveis. Outros estudos publicados em revistas científicas, como Nature Medicine e Radiology, revelam que o diagnóstico da IA é mais preciso que o de patologistas humanos.

Além disso, a IA tem auxiliado médicos no cuidado com os pacientes, otimizando atendimentos e possibilitando uma análise mais aprofundada dos diagnósticos. Esse é o caso de Isaias Chaves, 39 anos, médico ortopedista que faz cirurgias em sua clínica com auxílio da inteligência artificial. Ele conta que usa a tecnologia em exames pré-operatórios, na simulação de resultados e durante a colocação de próteses de quadril e joelho, para mapear a posição das próteses de acordo com a anatomia dos pacientes, descrevendo um resultado muito positivo.

“Antes da inteligência artificial, as próteses de joelho eram implantadas em um posicionamento padrão, o que favorecia um alto índice de insatisfação pós-operatória. Com a IA, o implante é checado durante a cirurgia e feito de acordo com a anatomia dos pacientes, melhorando os resultados cirúrgicos e a satisfação deles”, diz Isaias.

Apesar desses benefícios, há risco de erros na leitura de dados pelos algoritmos ou ainda de vazamento de dados pessoais, o que se complica com a dependência das ferramentas de IA, como explica o infectologista José Ribamar Branco, diretor técnico do Instituto Nacional Desenvolvimento Social e Humano (Indsh) e diretor executivo do Instituto Brasileiro de Segurança do Paciente (Ibsp). Para contornar essas questões, ele defende atuação coletiva dos setores de saúde.

“Os riscos da IA incluem resultados insatisfatórios e violações de privacidade e segurança. A dependência excessiva dessas ferramentas pode levar a erros e supervisão inadequada. A colaboração entre clínicos, pesquisadores e formuladores de políticas é essencial para garantir que as IAs se alinhem aos princípios éticos e ao atendimento centrado no paciente”, aponta José Ribamar.

Diante disso, Chaves afirma ser fundamental a supervisão das inteligências artificiais pelos profissionais da saúde. Para ele, de nada adianta a precisão da IA se ela não estiver acompanhada pela análise de um ser humano. Por isso, ele acredita na capacitação dos médicos para lidar com a tecnologia.

“A IA funciona apenas como um auxiliar, porque, se os seus parâmetros forem seguidos cegamente, o cirurgião pode cometer erros. Por mais que as tecnologias favoreçam uma perfeição cirúrgica, a avaliação humana sempre terá maior peso, porque eu opero pessoas com sentimentos e desejos, e a IA interpreta dados. A capacitação e introdução da IA na rotina médica é uma necessidade”, defende o ortopedista.

Em 2020, a Universidade de Oxford previu que 89% das tarefas administrativas, contábeis e financeiras estavam sob risco de automação. Da mesma forma, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indicou que cerca de 96% dos empregos administrativos têm alto potencial de automação por inteligência artificial.

Nessa área, a análise de dados pela IA permite uma compreensão mais aprofundada do mercado e dos clientes, possibilitando estratégias de negócios mais eficazes, atendimento personalizado e comunicação eficiente. Caio Ludgero, 22 anos, é gestor administrativo e financeiro e usa IA no processamento de dados e no acompanhamento de clientes. Isso ocorre, segundo ele, por meio de softwares consultivos e de geração de resumos de gravações, ferramentas que facilitam o desempenho de tarefas repetitivas e transmitem confiança. “A economia de tempo é inigualável, e a maior habilidade da IA é a criação espontânea, que ocorre embasada em um banco de dados robusto”, diz Caio.

O gestor afirma que há uma grande defasagem no acesso a conhecimentos para lidar com a IA no trabalho, o que pode levar à substituição dos profissionais que não têm domínio da tecnologia. “Possuímos ainda o obstáculo da acessibilidade, tendo em vista que parte da população não tem acesso a equipamentos ou conhecimentos básicos para usar a IA. Acredito que poucas profissões venham a ser substituídas por robôs. Porém, os profissionais que não sabem utilizar essas tecnologias serão trocados pelos que as dominam”, declara.

No setor de produção e consumo de serviços, a inteligência artificial é muito usada na criação e no gerenciamento de conteúdos, assim como na personalização para os usuários. Gabriela Bueno, 33 anos, trabalha com marketing há quatro anos e relata que usa a IA para traduzir materiais, organizar tarefas e ideias, editar vídeos e atender clientes. Hoje, ela atua em planejamento estratégico para as redes sociais na área da saúde e descreve que a ferramenta tecnológica tem lhe ajudado bastante.

“A IA nos ajuda a traduzir conteúdos, para que possamos nos atualizar de forma mais rápida. A gente também consegue gravar com a qualidade de imagem semelhante a de uma câmera profissional, editar vídeos e colocar legendas. A IA tem me ajudado não só na parte de planejamento e estratégia, mas também no atendimento ao cliente”, expõe.

Para Gabriela, os principais desafios do uso de IA no marketing incluem ética ao lidar com as informações e filtragem do que é proposto pela tecnologia. Por isso, ela acredita que a IA nos setores de comunicação deve ser aplicada sob a supervisão humana, defendendo também a capacitação dos profissionais.

“Vejo muitas pessoas que não dominam os comandos a serem utilizados para obter informações, principalmente, em textos. A IA está aí, não tem como negar. Precisamos trabalhar a favor dela, para oferecermos informações mais ricas, saindo da superficialidade. Participar de cursos e demais formatos de aprendizado com uma visão crítica e inteligente é o que faz toda a diferença na utilização da IA”, declara a profissional.

*Estagiária sob supervisão de Marina Rodrigues

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