A mudança no perfil demográfico brasileiro já mudou a estratégia de negócios das empresas. A fabricante mineira de fraldas CCM – um dos únicos grandes players nacionais neste setor –, dona da marca Hipopó, está apostando com força no segmento adulto. Neste mercado, atua com as fraldas geriátricas e roupas íntimas sêniores Welness e Confort.
Para isso, investiu R$ 140 milhões na expansão de sua fábrica em Uberaba (MG) e na importação de duas máquinas japonesas que, quando estiverem 100% em operação, vão ampliar a oferta de fraldas no mercado nacional em 10% no segmento baby e 15% no segmento adulto.
Segundo dados da Euromonitor, foram produzidas mais de 11 bilhões de unidades de fraldas no Brasil em 2024. Para os próximos quatro anos, a projeção é que a produção avance 3,8% nos modelos infantis e 102% nos de adultos.
A CCM é o braço de produtos de higiene pessoal e hospitalar do Grupo Mafra, do empresário Carlos Mafra, que hoje atua mais no setor agropecuário. A distribuidora de medicamentos fundada pelo empresário deu origem à hoding Viveo, que abriu capital em 2021 e teve as ações pulverizadas.
O empresário reduziu sua participação na Viveo a 1% e deu gás à CCM, que tem 60% da produção em modelos infantis e 40% em fraldas adultas. As chamadas roupas íntimas descartáveis crescem num ritmo mais acelerado do que os modelos baby.
O segmento adulto é considerado estratégico pela marca com o envelhecimento acelerado da população brasileira, como mostrou o Censo do IBGE. O Brasil tem hoje 32,1 milhões de pessoas com mais de 60 anos, cerca de 15,6% da população. E a previsão é que, por volta de 2042, os idosos sejam a maioria da população.
A aposta nas fraldas descartáveis no formato de calcinhas ou cuecas, as pants, é uma tentativa de acelerar o passo neste segmento, já que o modelo é mais prático de vestir, mais discreto que o tradicional e costuma ser usado por uma faixa etária a partir dos 50 anos, em relação às tradicionais fraldas geriátricas, que têm um público mais idoso, em média acima de 80 anos.
— Ainda há barreiras culturais, mas a resistência da população brasileira ao uso da roupa íntima descartável na fase adulta vem caindo — diz o CEO da companhia, Rodrigo Zerbini.
Ele conta que nos EUA o uso é disseminado e há até modelos estampados e customizados, com apelo mais sexy.
Os dois equipamentos trazidos do Japão são específicos para a fabricação do modelo pants e podem produzir mensalmente até 30 milhões de unidades baby e 9 milhões do modelo adulto. Hoje, a empresa é a terceira maior produtora de fraldas adultas e a sétima no mercado infantil.
Com o investimento, a expectativa é subir no ranking, garfando fatias de um segmento liderado por companhias multinacionais com fábricas no Brasil, como a americana Kimberly-Clark — dona das fraldas Huggies e Plenitud — e a sueca Essity, da Tena.
A empresa encerra 2024 com um faturamento de R$ 750 milhões. Para o próximo ano, com as novas máquinas em operação, a expectativa é alcançar R$ 1 bilhão. Além de Hipopó, Confort e Welness, a CCM produz fraldas de marcas próprias de redes de farmácias como as drogarias Pacheco e São Paulo (DPSP) e Raia e Drogasil (RD Saúde).
Mais da metade do faturamento da empresa vem da venda das fraldas em farmácias e supermercados. Outros 15% são a partir do fornecimento para clínicas e hospitais, com clientes como Sírio-Libanês, Einstein, Beneficência Portuguesa, e Amil.
Além de elevar a oferta nacional, as novas máquinas vão acelerar as exportações da marca, que representam 10% do faturamento. A CCM tem clientes em Argentina, Uruguai e Paraguai, e contratos previstos para Bolívia e Colômbia.
A expansão das vendas internacionais é uma das estratégias da companhia para se proteger das variações cambiais no próximo ano, explica o diretor financeiro da empresa, Lucio Bueno. Com metade dos insumos dolarizados, a CCM sentiu a alta do dólar e considera inevitável reajustar sua tabela de preços em janeiro. O cenário de juros mais altos também preocupa, porque compromete a capacidade de consumo dos brasileiros.
O investimento no maquinário japonês — as duas máquinas custaram cerca de US$ 17 milhões — foi viável graças a um financiamento da Finep, braço de aporte à inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com juros de 4,5% ao ano. Um dos equipamentos já está em uso e outro está sendo montado.
Mas, com o cenário de acelerado envelhecimento da população brasileira, mesmo com o câmbio e os juros altos previstos para 2025, a empresa prevê que chegará em breve a atingir 80% de uso dessas máquinas e precisará fazer nova encomenda para 2026.
Colaborou Luciana Rodrigues