Freio na Selic? Entenda por que o comunicado do BC sobre juros abre espaço para redução do ritmo de corte

Em um comunicado que abre alertando para a volatilidade do cenário externo, que continua a exigir “cautela por parte de países emergentes”, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central promoveu a sexta redução consecutiva na taxa básica de juros, a Selic. O corte foi de 0,5 ponto percentual, de 11,25% para 10,75% ao ano, menor patamar desde fevereiro de 2022, quando estava em 9,25%. A decisão foi unânime.

No comunicado, analistas de mercado se concentraram em uma mudança de linguagem. Se antes o Copom falava em “redução da mesma magnitude nas próximas reuniões”, desta vez usou o singular: “na próxima reunião”. Ou seja, em maio. Alguns especialistas viram um texto mais duro, mas outros mantiveram suas projeções de corte.

“A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”, diz o comunicado do BC.

Na avaliação da autoridade monetária, a inflação está caindo em ritmo mais lento que antes. Como a Taxa Selic é usada para manter o equilíbrio dos preços, o Copom prefere esperar para ver como estará o cenário de aumento de preços na reunião de maio para, então, avaliar possíveis novos cortes na Selic.

Importância da meta fiscal

Dados recentes mostram aquecimento na criação de empregos e no setor de serviços neste início de ano, o que pode pressionar a inflação.

— A inflação de serviços e serviços subjacentes ganha ainda mais relevância, uma vez que a resiliência apontada por ambas é bastante significativa, bem como os indicadores de atividade recentes, com números que mostram um aquecimento importante ainda em serviços e varejo — afirmou Helena Veronese, economista-chefe da B. Side Investimentos.

O Boletim Focus, apurado semanalmente junto ao mercado, mostra que as estimativas para a inflação este ano passaram de 3,77% para 3,79%. Já a projeção para o crescimento do PIB este ano subiu de 1,78% para 1,79%.

Em seus cenários para a inflação, o Copom aponta como fatores de risco para a alta “uma maior persistência das pressões inflacionárias globais e uma maior resiliência na inflação de serviços”. Para uma possível queda, contribuiriam “uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada” e “impactos do aperto monetário” em outros países mais fortes do que o esperado.

“O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional estão mais incertas, exigindo cautela na condução da política monetária.”

O comunicado ressaltou “a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação”, ou seja, da meta de déficit zero este ano.

Os especialistas avaliam que a mudança no comunicado do BC é uma estratégia para ter maior flexibilidade na condução da política monetária, a fim de se precaver de subidas inflacionárias. Mas há quem ainda espere novos cortes.

— Mantemos nosso cenário, que ainda contempla duas quedas adicionais desta magnitude (0,5 ponto), com o ciclo sendo finalizado com um ajuste derradeiro de 0,25 ponto em julho. Com isso, projetamos Selic em 9,5% ao final deste ciclo, com uma redução residual em 2025 para 9% — disse Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria.

Já os economistas da Genial Investimentos consideram que o comunicado “veio mais duro do que o esperado”, com sinalização de maior incerteza doméstica em relação à inflação, o que aumenta as chances de uma redução no ritmo de cortes a partir de junho.

Isso levaria a uma Selic, no fim do ano, acima do consenso do mercado, de 9%. A Genial projeta mais duas reduções de 0,5 ponto e um corte final de 0,25 ponto em julho, com a Selic encerrando o ano a 9,5%.

Já para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, o BC deve manter o ritmo de 0,5 ponto nas próximas reuniões:

— Achamos que, perto do fim do ciclo, realmente chegou a hora de ganhar essa flexibilidade, e a mudança na comunicação não necessariamente quer dizer que o Banco Central vai mudar o ritmo de cortes, até porque as projeções de inflação ficaram estáveis.

Fed mantém pela 5ª vez

Também ontem, o Federal Reserve (Fed, o BC americano) manteve sua taxa de juros entre 5,25% e 5,5% pela quinta vez seguida, conforme esperado pelo mercado. Após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, falou com a imprensa. Ele não deu uma data, mas disse que os cortes devem “ter início em breve”. Após a decisão, o dólar no Brasil recuou 1,09%, a R$ 4,97.

O Fed manteve a projeção mediana de três cortes de 0,25 ponto este ano, o que aponta taxa em torno de 4,6%. Para 2025, a mediana das expectativas sinaliza juros de 3,9%. Com isso, analistas esperam mais três cortes em 2025.

Em relação a juros reais (descontada a inflação), o Brasil está em segundo lugar no ranking global, com 5,90% ao ano, atrás apenas do México, com 7,46%, aponta levantamento do site MoneYou.

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