Agronegócio é saída para economia brasileira, defende Nakano

O economista Yoshiaki Nakano está cada vez mais convencido de que a saída para a economia brasileira está no agronegócio. Para ele, é fundamental agregar valor nas cadeias produtivas do setor, o que teria o efeito de puxar a indústria e produziria impacto positivo também no segmento de serviços. Ele se diz, porém, pessimista com as perspectivas para o país. Falta uma estratégia de crescimento de longo prazo e o Brasil não caminha para fazer as reformas necessárias para assegurar uma expansão sustentada da economia, avalia Nakano, que em maio deixou a direção da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), que ocupou por 20 anos, desde a sua criação, em 2003. Ex-secretário da Fazenda paulista, Nakano não vê com bons olhos o projeto do novo arcabouço fiscal, prestes a ser aprovado pelo Congresso. A iniciativa requer aumentos expressivos de receitas para bancar o aumento de gastos sempre acima da inflação. “Se você não colocar claramente uma trava na despesa, o que vai acabar ocorrendo é piorar a qualidade da economia brasileira”, diz Nakano, crítico de um ajuste fiscal baseado na alta da arrecadação. “O governo é o setor mais deficiente da economia”, afirma ele, acrescentando que a carga brasileira já é muito elevada.

Para Nakano, trata-se de um ajuste de má qualidade. Ele via com simpatia o teto de gastos, o mecanismo criado em 2016, que limitava as despesas não financeiras da União à inflação do ano anterior. Era uma âncora simples, baseada numa trava aos gastos públicos. O problema, segundo ele, é que não foram feitas as reformas necessárias para que o teto ficasse de pé.

“O que é necessário é pegar o Orçamento item por item e fazer um corte, uma reforma para valer”, diz Nakano, secretário da Fazenda de São Paulo de janeiro de 1995 a janeiro de 2001, no governo Mário Covas, quando promoveu forte ajuste das contas públicas do Estado. De acordo com ele, um dos grandes problemas do país é a despesa de pessoal do setor público. “Não é que você tenha muito funcionário; é que o salário médio do funcionalismo é muito mais alto que no setor privado.”

Ao optar por uma estratégia de ajuste baseada em aumento de receita, impõe-se um peso muito forte em cima do consumidor, da maioria da população, principalmente em cima dos mais pobres, avalia Nakano. Para ele, a tendência é que o investimento público continue deprimido, e que a alta da arrecadação financie gastos correntes, como os de pessoal. “É preciso aumentar muito o investimento, principalmente em infraestrutura”, afirma ele, que ressalta a necessidade de o país elevar a produtividade.

Ele não vê essa agenda nas prioridades do atual governo. Para Nakano, a ideia de crescimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é elevar “os gastos do governo”. É uma direção errada, segundo ele. “Não é por aí. Precisa aumentar a produtividade, fazendo os investimentos necessários. É preciso ajustar as contas públicas, criando espaço para o investimento público, principalmente em infraestrutura, que tem complementaridade com o investimento privado, o que gera aumento de produtividade.”

Nesse cenário, Nakano se diz pessimista com as perspectivas para o país, afirmando não ver luz no fim do túnel. Ele considera o governo anterior, de Jair Bolsonaro, um desastre. Dividiu muito a sociedade e causou danos à democracia. Mas Nakano diz não ter grandes esperanças na gestão de Lula. Há alguma melhora em áreas como meio ambiente, um espaço em que o Brasil “pode fazer muita coisa e a pressão internacional é cada vez maior”.

“Falta um direcionamento claro para onde vai a economia brasileira”, avalia Nakano, que vê no agronegócio a saída para o país.

O caminho, diz ele, é agregar valor na cadeia produtiva do setor. “Eu não sei que setor da indústria brasileira hoje é competitivo para valer, sem subsídio. No agronegócio, nós somos eficientes, e há muita possibilidade de inovação ainda, de digitalização.” O que não foi feito até hoje, na visão de Nakano, é agregar mais valor ao longo da cadeia produtiva do agronegócio. Se isso for feito, haverá um impacto significativo sobre a indústria e sobre os serviços.

Para ele, o Brasil ainda necessita da atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no financiamento de prazos mais longos. “O que não precisa é de grandes subsídios. Mas o banco ainda tem um papel para oferecer capital de longo prazo.”

Ao falar da polêmica sobre os juros, Nakano diz que é uma “controvérsia em que ninguém tem razão”. O economista diz que Lula cria incertezas quando critica o Banco Central (BC), criando ruídos que dificultam a queda dos juros.

Depois de 20 anos, Nakano deixou a direção da FGV EESP em maio. Ele fala com satisfação da evolução da escola, que se tornou uma das mais respeitadas do país na área. Segundo Nakano, a escolar enfatiza muito os instrumentos que os economistas precisam ter hoje. “É fundamental saber modelar, portanto saber matemática, econometria, estatística – e saber pensar.”

A escola conseguiu atrair um grupo diverso de professores, uma boa parte com doutorado no exterior. No mundo da academia, com cursos sendo avaliados, é importante que os pesquisadores sejam capazes de publicar nas melhores revistas acadêmicas, diz Nakano. “Mas nós fazemos questão que os professores não sejam pessoas religiosas, dogmáticas.” É preciso saber trabalhar em equipe, ajudando e sendo ajudado, de acordo com ele.

A EESP FGV tem hoje quase mil alunos, e a ideia é dobrar o número em quatro a cinco anos, afirma Nakano. Um dos projetos é aumentar o número de bolsas de estudo, para atrair mais talentos carentes. A instituição vai atrás de alunos de escolas públicas que passaram no vestibular, oferecendo bolsas e fazendo acompanhamento para reter esses estudantes, um esforço que, segundo ele, tem sido bem-sucedida.

Nakano continuará na escola, na função de professor-sênior. A professora Lilian Furquim de Campos Andrade, que trabalhou na criação da escola e se tornou vice-diretora em 2018, assumiu a direção da EESP FGV em maio.

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